sábado, 13 de outubro de 2007

As eleições do PSD - Impacto Local e Nacional

As eleições no PSD


Se há coisa que a História nos ensina é a não fazer futurologia. E sobretudo a não fazer de uma «previsão», ou de uma «antevisão», um dado adquirido. Temos, ao longo dos tempos, vários exemplos. No futebol então acontece constantemente. Ele é ver, na pré-época, o número de «craques», de «génios», de «matadores», de «maestros» que chegam. Depois, no fim da época, ou mesmo antes, alguns até já nem estão nesses clubes, e outros são vendidos quase ao desbarato. É o problema, a que já várias vezes aludi, intrínseco a alguns dos nossos jornalistas (desportivos mas também políticos), de confundirem «o que é» com aquilo que eles «queriam que fosse».
Vem isto a propósito do tema proposto para esta reflexão aqui no «Senado»: "As eleições directas no PSD - impacto nacional e local". Tema que daria pano para muitas mangas.
Passou ainda muito pouco tempo do acto eleitoral, não houve ainda congresso, e creio que até lá tudo estará num «limbo». Mas já é possível falar de impactos.
Parece-me óbvio que as directas são a forma de as bases efectivamente se pronunciarem se e como quiserem. É claro que tudo tem vantagens e inconvenientes. Quem, como eu (quiçá muito ingénuo), acha que a política deve ser uma coisa limpa, transparente, sem jogos de bastidores, em que aqueles que contam têm voz e se fazem ouvir, não pode deixar de concordar com este sistema de escolha do líder. E por isso verá nele mais vantagens.
Quem imagina hoje o Presidente da República eleito por um Colégio Eleitoral (normalmente a Assembleia) e não por sufrágio directo? E no entanto isso já aconteceu. E a que é que levava? A que o Presidente fosse sempre da mesma maioria que o do próprio órgão que o elegia. «Mal comparado», como se diz aqui na Maia, é o que acontece nos congressos. Já está tudo decidido quando o congresso começa. Basta contar espingardas.
Portanto estas directas, a nível nacional, deram ao próprio sistema eleitoral uma enorme visibilidade. Claro que os «cépticos» logo falarão da «má imagem», dos «insultos», das «suspeições», etc., etc. Mas, meus amigos, não acontece isso sempre? Não aconteceu no PS? Não acontece nas eleições para os clubes, os sindicatos, as associações de bairro? Não é isso quase inerente à nossa condição de latinos?
O que eu penso que ficou provado, e que, depois de assentar a poeira será quiçá o principal reflexo a reter, é que com as directas, os militantes se pronunciam mesmo em relação àquilo que acham, tornando mais difíceis as manipulações. Estas, formando frequentemente uma teia, desaguando nas listas locais, constituídas muitas vezes de modo enviesado, inquinavam a escolha de delegados, fazendo pender os resultados para aquele lado que «dominasse» mais estruturas locais, o que muitas vezes não correspondia a um maior número de militantes.
Também me parece evidente que aqueles a que chamaríamos derrotados, vários dos quais foram defensores das directas, têm hoje uma tendência em desvalorizá-las. Claro! Se foram derrotados em directas, diminuindo-lhes a importância, tentam minimizar a sua derrota. Mas estas directas, não tenho dúvidas, constituirão um marco na história política do PSD.
Claro que com directas os congressos terão que encontrar um novo figurino. Serão, por exemplo, locais de «brain-storming», de afinação de estratégias, de escolha de órgãos, de maior participação de estruturas locais e regionais. Sem terem, obviamente, o peso politico-mediático que tinham, terão de transformar-se em verdadeiras sessões de trabalho, bem necessárias aliás.
Outras questões curiosas, teriam que ser afloradas, como a dos «barões». Claro que há necessidade de elites. As nações não vivem sem elites. Só que estas devem travar um combate diferente. O combate das competências, do por ao serviço do partido (neste caso) as suas experiências e os seus saberes. E não o de tentarem «jogar» politicamente. As elites não são para governar, mas sim para marcar, para pautar a governação. Quantos dos ministros deste governo, incluindo o próprio primeiro-ministro, se podem considerar como fazendo parte de uma «elite»? Três? Dois? Não sei se tanto. E no entanto, a avaliar pelas sondagens, e como dizia aquele já falecido locutor radiofónico, «é disto que o povo gosta».
Com estas eleições directas, como já escrevi, o partido foi efectivamente devolvido às bases. Será bom? Será mau? Creio que tudo vai depender do modo como as coisas efectivamente se passarem. Um partido de oposição tem de fazer oposição. De modo construtivo, com os olhos postos no futuro e no bem da população, mas fazer oposição. A formação de um governo sombra é para mim fundamental. Não percebo porque é que, tendo o PSD tantos militantes de enorme valor, nunca o fez. Esta marcação cerrada é muito mais eficaz do que um porta voz que não sabemos que voz é que trás. E depois é fundamental dizer claramente ao povo o que o partido pensa a propósito das coisas. E apresentar soluções concretas e alternativas. Mostrar que se os outros falham, o partido aí está propondo isto e esperando este resultado. Essa é a única forma de oposição que concebo, a de alternativa credível ao que está mal e de apresentação de ideias novas.
Esta intervenção já vai longa e termino com a sensação de que gostaria de estar a começar.
Não sei se localmente, e no imediato, irá haver grandes consequências. O PSD Maia tem utilizado muito a política da avestruz, isto é, meter a cabeça na areia. Não se passou nada, tudo continua como dantes. Espero que desta vez também isto mude. Que também aqui a voz, e a vez, seja devolvida às bases, e que seja respeitado o sinal que deram. Que se perceba verdadeiramente a pirâmide, o seu funcionamento e os seus fluxos ascendentes e descendentes. Que as «elites» maiatas entendam a mensagem das bases e passem a ouvi-las e a considera-las mais.
Mas o fundamental para o PSD é compreender que mendistas, santanistas, barrosistas, cavaquistas, menezistas, e outros «istas», podem ser adversários circunstanciais. Mas o inimigo está do outro lado. E que passado o período eleitoral interno, é para esse inimigo que é necessário assestar baterias.

José Maia Marques

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